Caçapava do Sul thê!
Os feriados de novembro são oportunos para uma atividade outdoor. Passadas as chuvas de outubro e setembro, as temperaturas amenas e dias nublados são um convite para a aventura. Observando em nosso histórico de 10 anos de atividade, percebemos que o dia 2 de novembro foi muito bem aproveitado. Neste ano porém, antecedemos para o dia primeiro, domingo, e descansamos na segunda.
Cerca de 300km separam Santa Cruz de Caçapava. Na cidade (modestos 400 metros sobre o nível do mar) sentimos o frio da campanha. O vento acentuava a sensação. Seguimos pela RS 357 até a Vila do Segredo, onde quebramos à direita em uma estrada em péssimas condições. Um instante mais e divisamos as formações rochosas mais abaixo, principalmente a Pedra Redonda e do ET. Devido à brevidade do tempo, objetivamos a Pedra do Segredo, ponto mais conhecido do local.
Existe uma pequena infra-estrutura na entrada do parque. Estacionamento, área para camping, churrasqueiras, banheiro e a residência do zelador. Chegamos perto do meio dia e tratamos logo de preparar o almoço. Já tínhamos ouvido as recomendações do zelador e calculamos que não poderíamos permanecer somente nas trilhas oficiais. Cedo da tarde já partimos com uma quantidade mínima de equipamento dentro da mochila grande. Seguimos a trilha até a primeira caverna. Sem lanternas, não chegamos ir até o fundo.
A segunda caverna fica ainda na base da montanha e é aberta e ampla. No centro, uma infiltração tem produzido uma estalactite.
A curiosidade geológica contrariou as expectativas. Partindo de um pensamento de que as bases destas "guaritas" seriam rochas metamórficas, a visualização provou serem sedimentares. Na seguinte foto, o costado esquerdo da caverna retratada acima, mostra uma consistência totalmente porosa. Mais adiante falaremos sobre o revestimento superior deste complexo.
Ainda na trilha oficial, alcançamos a caverna situada na metade da montanha. É semelhante a uma oca. Dela se tem o mirante da direção da entrada do parque.
Concluída a trilha, retornamos pelo mesmo caminho até uma ravina com córrego. Depreendemos que seguindo pelo curso d'água a montante iríamos encontrar um caminho para o cume. Escolhemos uma bifurcação pela esquerda e finalmente um lance exposto de uns 45° de inclinação que nos deu o gosto da aventura, ainda mais pelo vento que ali se fazia sentir. O primeiro a subir fixou uma corda (em um arbusto)como mostra a foto a seguir.
No alto, uma visão de 360° do complexo de guaritas de Caçapava. A foto que encabeça este post é em direção à Pedra da Abelha e a próxima que segue mostra um escalador na outra extremidade do parque.
Mas retornando à morfologia, o revestimento destas montanhas é uma camada espessa de conglomerados. Areia grossa e seixos de pedras metamórficas, principalmente o granito. Infere-se que o sítio seja a transição entre o Escudo Cristalino Sul rio-grandense e a Bacia Sedimentar do Camaquã. Para Degrandi e Figueiró (2012) "Esta bacia sedimentar está assentada sobre terrenos ígneos e metamórficos do Escudo Sul rio-grandense, apresentando um contexto de preenchimento bastante complexo, para uma área relativamente pequena." Outra peculiaridade facilmente observável é a aparência de "cuestas" para estas formações. Todas elas emergem do solo em uma inclinação de uns 15° a 20°. Este aspecto arqueado submerge em direção sudoeste, na mesma direção do Escudo rio-grandense. Para Santos (2010) o complexo é identificado como Grupo Santa Bárbara e as guaritas são decorrentes de falhas geológicas.
Em 2016 estaremos mais ao Sul, em Minas do Camaquã, complexo com número maior de guaritas e notadamente dentro da Bacia Sedimentar do Camaquã. Abaixo, foto da superfície do cume da Pedra do Segredo. Conglomerado de seixos. Com aqueles que se soltaram foi feito o pequeno monumento.
Participaram desta expedição, da esquerda para a direta, Ricardo, Joéde, Bruno e Jesiel.
Fontes externas:
Degrandi, S.M.; Figueiró, A.S. Patrimônio Natural e Geoconservação: a geodiversidade do município gaúcho de Caçapava do Sul. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.5,n.2, mai/ago-2012, pp.173-196.
SANTOS. Maurício Guerreiro dos. Tectônica e Sedimentação na Bacia do Camaquã Central. São Paulo, 2010. USP. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44141/tde-01062010-114015/publico/mestrado1.
